sábado, 20 de fevereiro de 2010

EDUCAÇÃO e CONCEITOS III

Há tempos não escrevo, não por falta de assunto, mas por falta de vontade....falar de $ na cueca, de pizza, panetone, etc, já não tem mais graça....
Hoje no almoço encontrei um ex-aluno e trocamos várias idéias, que me fizeram refletir e ter (novamente) vontade de escrever......

Porque nosso ensino técnico vai TÃO mal (apagão de MO qualificada) se temos as melhores escolas e métodos de ensino?

Há 50, 40 anos, um curso técnico equivalia ao colegial. Tinha duração de 3 a 4 anos. Tinha um currículo mínimo de português, história, etc (que já vinha bem aprendido do primário e ginásio) e puxava muito na componente técnica. Física para Tec. Elétrico, Eletrônico, etc.... Química, para Tec. Químico e assim por diante. Dessa forma, uma boa escola de química tinha, no mínimo, 5 (cinco) laboratórios, cada um específico: química geral, analítica qualitativa, quantitativa, orgânica, tecnológica.... As escolas dispunham dos equipamentos e reagentes e os alunos compravam (em grupos) as vidrarias que seriam utilizadas. Dirão os Ptistas de plantão: coisa de burguês (se é que eles sabem de onde vem a expressão). Mas apesar de caros, os alunos davam valor e cuidavam dos equipamentos, porque saída do bolso deles. Além disso, tudo (de boa qualidade) durava os 4 anos e no final, eram vendidos aos colegas que vinham iniciando. Portanto, o INVESTIMENTO inicial retornava (em boa hora) no final do curso.
Hoje, os cursos técnicos não equivalem aos colegiais. Os alunos freqüentam 8 (ou 9) anos, mais 3 e ainda assim saem sabendo MUITO pouco, como atestam TODOS os testes internacionais aos quais são submetidos, tirando sempre os vergonhosos últimos, penúltimos ou anti-penúltimos lugares. Daí, não conseguem colocar-se no mercado e procuram os cursos técnicos, que despojados do status de colegial, ficaram reduzidos a serem realizados em 1,5 ou 2 anos.
Na teoria, perfeito (papel aceita tudo). Mas na prática, falta a base.... como as escolas (técnicas ou não) não podem reprovar (porque os políticos entendem isso não como deficiência dos jovens, mas das escolas e, por tabela, dos professores – o que não é de todo falso) formam não-profissionais, que terão que aprender (de verdade), na prática, SE conseguirem uma colocação.
Os Planos de Cursos são desenvolvidos por tecnocratas que tem o Dever de entender de tudo (porque as instituições não podem manter especialistas em TODAS as áreas - compreensível). Sabedores disso, são instituídos os Conselhos Consultivos, compostos com membros de TODA a sociedade, para auxiliar os tecnocratas. Novamente, maravilhoso no papel, mas na maioria das vezes, não há empresas dispostas a enviar gerentes, supervisores, para “convescotes” educativos e as que fazem, enviam aqueles que não farão falta no dia-a-dia da empresa (tecnicamente fracos – que toda empresa tem). Com raras exceções, mandam a nata.
Assim, são levantadas as “Necessidades” do profissional. Uma, duas ou três reuniões após, o conselho de 20 representantes se resume a 2 ou 3 (e os demais representantes dos representantes, que não acompanharam o processo e nada sabem do assunto).
A batata quente voltou às mãos dos tecnocratas das escolas. Uma montanha de necessidades (legítimas), mas que eles não sabem como se encaixam, como interagem, como fazer para “desenvolver” conteúdos adequados a suprir aquelas necessidades, etc..
Mas...... a sociedade demanda, o curso TEM que ser colocado a disposição da comunidade.
O resultado é uma “colcha de retalhos” teóricos, num papel cheio de belos chavões (Habilidades, Atitudes, Desenvolvimento da cidadania, etc..) sem nenhuma preocupação com o “COMO” aquilo será obtido dos alunos. Como os professores irão desenvolver, monitorar e conceituar as tais Habilidades.
Para dar o golpe de morte, o sistema de educação não aceita “conceitos”. Então os pobres dos professores têm que “dar uma nota”, que será TRANSFORMADA num conceito. Assim como uma “tabelinha”. Ou vice-versa.
Avaliação continuada, conceitos de participação, pró-atividade, limpeza, trabalho em equipe, etc., embora constem como “Habilidades”, tem que ser transformadas numa NOTA!
Pergunto: como se transforma pró-atividade em nota? Usa a “tabelinha”!!!!
Ah! Também tem que ter uma PROVA (alguns chamam de Avaliação, só pra não dizer que é prova... eheh)

Tudo isso reflete o tal “apagão de MO”.
Mas o mais importante: QUEM são os culpados?
TODOS NÓS!

O Governo: Por querer popularizar o estudo (muito justo) “na marra” (muito errado)
As Escolas: Por Fingir que desenvolvem Planos de Cursos factíveis, enganando os alunos. Minha maior frustração ao sair da empresa (sofrendo 10 anos por falta de mão de obra), era deixar o conhecimento adquirido ao longo de 30 anos, morrer comigo. Hoje, minha maior frustração é encontrar ex alunos (e quase TODOS que encontro me dizem o mesmo), dizendo que foi bom, legal, etc., mas que de nada adiantou fazer o curso tal ou qual.
Os Professores: que na maioria se acovardam e Fingem que dão aula, para alunos que fingem que querem aprender.
As Empresas: que precisam da MO, mas que não colaboram ou colaboram muito pouco (raras exceções) com o processo.
O Sistema: que faz com que os alunos pensem que o importante é ter um “papel” (certificado) e não a Qualificação (saber o que, como e porque fazer as coisas que são necessárias de serem feitas).
Os Mentores das escolas (inclusive as técnicas), que fizeram do ensino um “negócio” que precisa se manter, dar lucro, etc... mas que pagam mal e portanto não tem bons profissionais e, além disso, não tem a humildade de “copiar” o que há de bom em outros lugares. Eles querem a Glória de Criar! Mas, infelizmente, na maioria das vezes, acabam criando monstros.
Os Alunos: que se deixam iludir pelo governo com promessas (falsas) de boa vida, caso obtenham o tal Certificado.
Finalmente, A Sociedade: que elege os políticos que formam os governos, que elogia as escolas e adula os professores, que sabem que enganam seus filhos.

Pra você pensar.......

PS. Claro que AINDA há boas escolas, colégios, faculdades, etc..... Graças ao Bom Deus!!!! Mas, como são poucas.......

Um comentário:

  1. O texto é a realidade. E é por essas e outras que quando estamos decididos a aprender não sabemos exatamente qual entidade de ensino procurar e confiar.
    Ensinar é um ato de amor, aprender também o é pois envolve o respeito pelo mestre, o gosto pelo saber cada vez mais....mas aqui no nosso mundinho conta-se nos dedos os que REALMENTE querem aprender.
    E o mais triste é ver que a cada ano faculdades e escolas técnicas se multiplicam sem (quase) nenhuma base. Costumo dizer que estar envolvido com o processo de educação é um ato de amor e não um ato onde se visa (somente) lucro, construções de impérios materiais...

    O mundo está tão do avesso que mudá-lo nos custará muito!! E só quem pratica boas ações(não somente pra si) é quem realmente deseja mudança.

    Pense, mas também comece a agir.

    Patricia Barioni

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